O jornalista americano Richar Panek explora as pesquisas sobre os 96% do Universo que não conseguimos observar, como matéria e energia escuras
(Galileu) Em 1610, Galileu Galilei anunciou que conseguira observar o movimento das luas de Júpiter e concluiu: o Universo é feito de muitas coisas que escapam aos nossos olhos. Mal sabia quanto estava certo. Basta avançar até 1969, quando o astrônomo Jeremiah Ostriker percebeu que a Via Láctea girava tão rápido que devia ter se rompido. Há algo misterioso e invisível mantendo as galáxias unidas. Essa “cola” é o que cientistas batizaram de matéria escura.
“Não é ‘escuro’ como os buracos negros ou o espaço profundo. É ‘escuro’ no sentido de que por enquanto é desconhecido para nós, e pode ser para sempre”, escreve Richard Panek em De que é feito o Universo? O autor recapitula a história da astronomia desde Galileu até o momento em que cientistas concluíram que nós e tudo aquilo que percebemos somos apenas 4% do que existe. Vinte e três por cento são matéria escura, a "cola" das galáxias, partículas subatômicas que cientistas ainda esperam detectar, e os restantes 73% são algo ainda mais misterioso, a energia escura — a força que faz o Universo continuar a se expandir.
As melhores partes do livro exploram o que sabemos e o que não sabemos sobre esses elementos invisíveis, segundo astrofísicos como Ostricker, Saul Perlmutter e Vera Rubim, que dedicam as vidas a destrinchar o espaço em busca de pistas para nos ajudar a compreender a “escuridão”.
Nem todo De que é feito o Universo? se resume a descobertas impressionantes. Um dos maiores méritos é retratar a astronomia atual, cheia de siglas, empresas e tramas burocráticas, com tantos personagens que por vezes é necessário voltar um pouco na narrativa para não confundir um cientista com o outro. Isso não quer dizer que a leitura seja insossa ou recheada de tecnicismos, mas sim que cumpre um papel importante: mostrar que a astronomia não é apenas uma coleção de fenômenos grandiosos como supernovas e buracos negros. É feita também de pessoas capazes de chegar a ideias importantes enquanto comem pizza com os colegas.
A conclusão é de que, apesar de todos os investimentos, pouco se sabe sobre essas forças invisíveis. Apesar disso parecer um fracasso científico — afinal, como admitir que o que sabemos é que pouco sabemos? —, astrônomos e o próprio Panek consideram uma vitória o fato de não compreendermos o que está ao nosso redor. Eles se sentem satisfeitos por saber que suas descobertas talvez levem a um novo modelo físico que englobe, de fato, todas as partes do Universo.
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