9 de set. de 2014

Vulgarização controversa

A divulgação de pesquisas já causava polêmica entre pesquisadores no século XIX



(Pesquisa Fapesp) As críticas às imprecisões e exageros das notícias a respeito de estudos e descobertas científicas, quase sempre feitas por pesquisadores, estão longe de ser um moderno efeito da comunicação de massa ou de um número maior de pessoas escrevendo sobre ciência, tecnologia e inovação na imprensa. Entre 1896 e 1898, o diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro (hoje Observatório Nacional), o belga Luiz Cruls, manteve uma seção na Revista Brasileira em que comentava e explicava fatos científicos e, não raro, criticava erros que circulavam nos periódicos da época. “É singular como a opinião pública acolhe com extraordinária credulidade as fantasias mais extravagantes. Agora é um óptico que pretende construir uma objetiva de 30 metros de diâmetro…”, escreveu ele em 1896, segundo estudo de Moema de Rezende Vergara, pesquisadora do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), publicado no livro Ciência, história e historiografia (Via Lettera/Mast, 2008).

Um ano depois, Cruls fez um comentário por ocasião de determinada chuva de meteoros que desapontou quem teve a atenção chamada para o fenômeno pelo astrônomo francês Camille Flammarion. “A decepção, porém, tinha sua razão de ser, à vista dos artigos de C. Flammarion, que, com seu costumado estilo de poeta, descreveu a anunciada chuva de estrelas sob cores tão sedutoras que, na verdade, a não se realizarem [seria] o caso de atribuir o malogro a algum engano [dos astrônomos]”, criticou Cruls. Para ele, a maioria das pessoas só conhecia a astronomia por meio de “descobertas ruidosas anunciadas pelos jornais diários”, não raras vezes, fantásticas e duvidosas.

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