(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Por uma razão que ninguém sabe explicar, periodicamente são disseminadas notícias na internet envolvendo uma suposta aproximação entre Terra e Marte quando o planeta vermelho teria o tamanho aparente da lua cheia.
A próxima data, segundo essa versão, seria o dia 27 deste mês.
De fato, em suas órbitas em torno do Sol, a distância dos planetas entre si é variável e isso vale para todos, incluindo Terra e Marte.
Quando está do lado oposto do Sol, em relação à Terra (conjunção), por exemplo Marte fica a aproximadamente 370 milhões de quilômetros. Mas quando estão em máxima aproximação, do mesmo lado do Sol (oposição) essa distância é menor que 70 milhões de quilômetros.
A cada uma dessas aproximações, a distância entre os dois planetas varia, em função de suas órbitas elípticas deles em torno do Sol.
Uma órbita elíptica é como se fosse um anel ligeiramente achatado. Para um planeta em torno do Sol, a maior aproximação é chamada de periélio e a máxima, afélio.
Essas aproximações periódicas, no caso de Marte e Terra, são o bastante para que essas falsas notícias acrescentem que o suposto fenômeno a que se referem só voltará a ocorrer em um longo período de tempo.
Rigorosamente falando, no entanto, tudo isso só se repete aparentemente. E isso vale para tudo no Universo.
A razão dessa originalidade das coisas é que Universo está em movimento e em constante transformação.
Desde que você começou a ler este texto, por exemplo, o Universo expandiu seu volume, como um incomensurável balão de aniversário soprado por uma criança. E tudo indicada que essa expansão está se acelerando, por efeito de uma coisa que os cosmólogos chamam de energia escura.
A energia escura, ao contrário da gravidade que é atrativa, é repulsiva.
Especificamente em relação à aproximação que tornaria Marte do tamanho de uma lua cheia, no entanto, não há qualquer chance de que isso possa ocorrer.
O que é verdade, no caso dessas aproximações, é que Marte pode ter o brilho equivalente aos de algumas das estrelas mais brilhantes do céu, caso de Antares, a estrela gigante que representa o coração do escorpião, na constelação que tem esse nome.
Para fazer com que Marte se aproximasse tanto da Terra seria necessária uma força enorme e isso afetaria o equilíbrio (dinâmico) de todo o Sistema Solar.
Além disso, apenas para se referir rapidamente a esse falso prognóstico, uma aproximação tão grande de Marte produziria enormes efeitos maré, agitando os oceanos entre outros efeitos catastróficos que, seguramente, os disseminadores dessa falsa notícia desconhecem, caso contrário saberiam da inconsistência dessa possibilidade.
Ainda assim, muita gente de boa formação cultural acredita que Marte possa crescer no céu como uma enorme laranja madura e rivalizar com a Lua.
Acreditam, não porque não sejam inteligentes, mas porque eventualmente não tiveram um contato mínimo com as coisas do céu.
Uma pena, porque somos parte do céu.
Somos construídos, literalmente, com poeira de estrelas e parte da água que forma nossos corpos já foram cometas (caídos na Terra) no passado.
Essas, sim, são historias reais.
E bem mais fascinantes que a possibilidade de duas enormes luas disputando espaço nos céus da Terra.
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