(JC) O americano Brian Schmidt, que dividiu a distinção com Saul Perlmutter e Adam Riess em 2011, diz que o País pode desperdiçar uma grande oportunidade de desenvolver ciência se abandonar o projeto.
Brian Schmidt, Prêmio Nobel de Física em 2011, acredita que o Brasil está prestes a desperdiçar uma grande oportunidade de desenvolver a ciência em seu território se não voltar a considerar sua participação na construção do maior e mais avançado telescópio espacial do mundo, no Observatório Europeu do Sul (ESO, em inglês). Trata-se do European Extremely Large Telescope (E-ELT), instalado no Deserto do Atacama (Chile).
"Vocês dizem que há poucos astrônomos no Brasil e que, portanto, não valeria a pena entrar no ESO. Porém, acho que é o contrário", afirmou Schmidt ao Jornal da Ciência. O cientista americano, que dividiu o Nobel de Física com Saul Perlmutter e Adam Riess, está participando do 62º Lindau Nobel Laureate Meeting, conferência que reúne na Alemanha 27 ganhadores do Nobel e 592 jovens pesquisadores de quase 70 países.
Em declaração aos jornalistas que estão cobrindo o evento, ele opina que o Brasil "já tem uma história na astronomia" e que a entrada no ESO "é a chance de fazer crescer a astronomia e a física, inserindo o País no contexto internacional e integrando sua indústria". "Além disso, pode provocar uma grande mudança de mentalidade e o desenvolvimento da astronomia acabar sendo algo simbólico para outros campos", pondera.
No início de 2012, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) declarou que a entrada no projeto estava sendo reavaliada devido aos ajustes orçamentários - a participação do Brasil no consórcio custaria 250 milhões de euros, pagos em dez anos. O acordo para a convenção que estabelece a Organização Europeia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Austral foi assinado pelo ex-ministro Sergio Rezende, em dezembro de 2010.
Equilíbrio - Filho de um biólogo e apaixonado por ciência desde cedo, Schmidt se dedica, em seu tempo livre, a cuidar de seu vinhedo na Austrália, onde vive. "Gosto de cortar as vinhas. Quando temos a oportunidade de fazer algo diferente na rotina, é possível relaxar e limpar a mente. A ciência é uma atividade criativa e a criatividade requer tempo e contemplação", filosofa.
O cientista sugere, portanto, que os jovens cientistas não se deixem levar pelo estresse e grande volume de trabalho e se permitam "um equilíbrio na vida". "Os jovens pensam só em trabalhar e a ciência acaba virando uma tarefa. Ela nunca pode ser uma tarefa", alerta. Ele conta que a experiência em Lindau está sendo prazerosa, especialmente pelo contato com os jovens cientistas. "Não são jovens quaisquer. São os melhores e os mais brilhantes de cada país. Me fizeram algumas das perguntas mais difíceis que já ouvi", revela.
Nobel - No último ano, vida de Schmidt mudou bastante. Viagens, propostas e muito trabalho estão ocupando a maior parte de seu tempo. "Nesse sentido, posso dizer que qualquer ideia que eu tenha eu posso realizar. Porém, eu tive todas as oportunidades e nenhum tempo para realizá-las e é isso que estou tentando equilibrar", conta, ainda surpreso com o fato de que todos param para ouvir o que ele tem para dizer.
"Minha grande preocupação depois do Nobel é que não posso mais cometer erros e isso é um problema porque a ciência precisa de erros para evoluir. Mas acho que daqui a um tempo poderei a voltar a errar novamente", brinca, lembrando que, em 1998, quando ele e sua equipe realizaram a descoberta, não conseguia acreditar e pensou que estavam equivocados em suas conclusões. "Fiquei horrorizado ao descobrir que o Universo estava fazendo 'a coisa errada'", recorda.
Atualmente, Schmidt está à frente de um programa da Australia National University chamado SkyMapper, um "relativamente modesto telescópio", já que mede apenas 1,35 m, mas que conta com uma poderosa câmera digital de 268 milhões de pixels. A ideia do telescópio é mapear o céu do Hemisfério Sul. "Queremos entender a galáxia e isolar as estrelas como nunca se fez antes. Sempre esperamos surpresas, como a descoberta de um novo objeto. Acho que passaremos os próximos 10 anos descobrindo coisas que não são nem imagináveis.", conclui.
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